O que aprendi vivendo um ano no Metaverso?

Foram 365 dias, mais de 400 horas de uso, mais de 50 experiências em pelo menos 20 Metaversos diferentes

Por Kenneth Corrêa, Especialista em metaverso,
Diretor de Estratégia da 80 20 e  professor da FGV

Em outubro de 2021, Mark Zuckerberg anunciou a mudança do nome da empresa de Facebook para Meta. À época dizia que a intenção de investir U$10 bilhões em 15 anos para construir o Metaverso, e acrescentou que a empresa iria perder muito dinheiro nos primeiros cinco anos. No mesmo mês importei meu primeiro óculos de Realidade Virtual, o Meta Quest II (na época se chamava Oculus Quest II).

Já em dezembro de 2021, Bill Gates anunciou, enquanto usava o mesmo modelo de óculos, que em 3 anos (2025) a maior parte das reuniões aconteceria no Metaverso. Em março de 2022 a Gartner anunciou que em 2026, todo mundo (exagero, não é?) vai passar pelo menos 1 hora por dia no Metaverso.

Eu resolvi antecipar o ano de 2026, e nos últimos 365 dias eu visitei, explorei e utilizei mais de 20 Metaversos diferentes (usando meus Óculos, meu celular e meu computador), todos os dias. Alguns deles listo abaixo:

  • Meta Horizon
  • Spatial.io
  • Decentraland.org
  • The Sandbox
  • Crypto Voxels
  • VR Chat
  • Immersed
  • Arthur
  • Avakin Life
  • Zepetto
  • Second Life (sim, continua na ativa!)

Boa parte dessas experiências tenho compartilhado em meu Instagram. A pergunta que mais recebo: Mas o que você faz “lá”? A lista de experiências é grande, já que a maior parte das atividades são velhas conhecidas, que fazemos no mundo físico, outras pelo celular ou computador, e algumas poucas que realmente só funcionam em uma camada digital da realidade, que é imersiva, coletiva e persistente.

Então, para tentar deixar mais concreta a explicação e próxima da sua realidade meu caro leitor, trago abaixo algumas experiências comentadas:


Sociais

Socializar: o bom e velho bate-papo, conversar com pessoas aleatórias, conhecer suas histórias, encontrar pessoas que você divide afinidades e promover novas conexões num mundo onde nossa vida digital é cada vez mais pervasiva (e agora imersiva). Conheci uma paciente com paralisia cerebral escalando comigo o morro El Capitan (a vista lá de cima é invejável).

Turismo: a lista de locais para onde viajei nesses 12 meses de Metaverso é longa: Angel Falls na Venezuela, Petra na Jordânia, Yosemite na Califórnia, Stonehenge no Reino Unido, e é claro: Marte! Por que não andar na superfície do planeta vermelho sem precisar dos 6 meses (por trecho) de viagem no foguete do Elon Musk?

Shows: nesses últimos 12 meses participei de shows de stand-up comedy (ok, não foi tão engraçado assim), shows de rap e hip hop (embora eu preferisse Rock) e fiquei esperando o show da Anitta no Metaverso, mas por enquanto tive que me contentar com o clipe feito em parceria com o Free Fire.

Jogos: os eSports também são agora eSports VR, ou seja, da mesma forma que existem (e são enormes) campeonatos de games, também existem os campeonatos equivalentes em realidade virtual: equivalente ao Counter Strike temos o Onward, no estilo Fortnite temos o Population One. Para cada jogo digital hoje vêm surgindo seus representantes em VR. Temos também jogos que só funcionam em realidade virtual, como o Echo VR ou Beat Saber, que recomendo que você experimente a próxima vez que tiver contato com um óculos VR da Meta.

Arte: galerias de arte virtuais são a experiência mais comum e fácil de presenciar nos Metaversos. Quadros que muitas vezes são NFTs, ou mesmo apenas para conhecer o trabalho de um artista, podem ser apreciados nos mais variados nichos e estilos artísticos. Além disso, obras construídas em 3D, dentro destes mundos virtuais, são espécies de esculturas animadas as quais você pode caminhar em volta, entrar e manipular (só não vale jogar molho de tomate!).

Educacionais

Aulas de MBA: como professor da FGV e Digital House, eu não deixaria de falar sobre as mais de 30 aulas que ministrei no metaverso. Algumas eram só uma apresentação de slides e eu falando, em outras fiz mesas redondas, e até uma sala de aula para ensinar Análise de Dados, onde o próprio aluno conduz seu aprendizado sem precisar da presença ativa do professor.

Idiomas: participei de um grupo de conversação em inglês, numa escola com aulas semanais no Metaverso, e conheci um grupo que está estudando LIBRAS (linguagem brasileira de sinais), utilizando o reconhecimento de gestos dos óculos da Meta.

Negócios

Varejo: embora o processo de pagamento pelo produto ainda não aconteça no ambiente de Metaverso, você já pode visitar lojas de produtos como Chanel, Nike, Adidas, Renner e ver e manipular produtos em seus formatos 3D.

Imobiliário: por que ver apenas imagens “chapadas” do seu projeto residencial. Em minha reforma, minha arquiteta já apresentou a casa que vou morar toda em realidade virtual, onde eu e minha esposa, cada um com seus óculos, pudemos passear (e opinar) pelos cômodos da casa, antes da primeira parede ser derrubada, ou de qualquer novo tijolo ser colocado.

Eventos: esse ano participei de quatro eventos que eram híbridos, não só presenciais e via Zoom, mas também no Metaverso. Assisti palestras, interagi com outros visitantes e também passeei pelos stands conhecendo novas marcas e produtos. Com um de meus clientes fizemos um evento fechado apenas para convidados, influenciadores, que aconteceu em um espaço 100% personalizado da marca, e todos usando os óculos da Meta.

Automóveis: uma das empresas que fiz consultoria agora apresenta seus veículos pesados utilizando um espaço coletivo, inclusive disponibilizando óculos para seus clientes mais importantes, misturando a surpresa que vem com uma novidade, também com muito mais tempo recebendo informações técnicas sobre o produto, tirando o atrito gerado por visitas físicas à concessionária.

Sala de Trabalho imersiva: com os óculos não possuo mais limitação de tamanho de mesa ou estação de trabalho, e nem mesmo do número de monitores. Das mais de 51 cidades que visitei esse ano, meu escritório esteve sempre junto comigo, e ao colocar os óculos (as vezes até dentro do avião, antes da decolagem), eu tenho todos os meus arquivos do computador, disponíveis para acesso e compartilhamento, num ambiente imersivo que hoje me é mais familiar que minha mesa no escritório, de onde termino de digitar este artigo. Nesse último ano fizemos reuniões de conversa sobre andamentos de projeto e discussões de código-fonte de programação olhando para um gráfico de Gantt ou um MindMap de maneira imersiva.

Saúde

Educação para área de saúde: participei de um treinamento (não oficial) de CPR (massagem cardiorrespiratória) e acompanhei uma cirurgia de menisco (virtual, sem paciente físico). O nível de detalhe nas camadas da pele, músculos e cartilagem é extremamente realista.

Meditação: usando o aplicativo Tripp, que é a versão em VR do app mobile chamado Calm, fiz algumas sessões de meditação e mindfulness, diminuindo minha taxa de batimentos cardíacos nos dias de mais ansiedade.

Autismo: fui cobaia de uma empresa brasileira que está utilizando experiências em Metaverso para tratamento de crianças diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Foi incrível entender como se controla melhor os estímulos, e a importância da criança aprender atividades básicas para desenvolver sua autonomia.

Em suma, foram 365 dias, mais de 400 horas de uso, mais de 50 experiências em pelo menos 20 Metaversos diferentes.

A próxima vez que você ouvir falar do Metaverso, e se pegar pensando: “o que alguém faria em um mundo virtual?”, é só lembrar dessa lista!

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