Metaverso na dramaturgia: o tema da vez
Obra de Glória Perez, Travessia, tem núcleo que vai tratar da construção de um shopping center no metaverso
Oscar Wilde, em seu ensaio sobre “A decadência da mentira”, declara que “A vida imita arte muito mais do que a arte imita a vida”. Hoje em dia, em tempos de internet ao alcance de todos e novas tecnologias surgindo, é mais confortável dizer que a vida e a arte se misturam – a novela Travessia que o diga.
Escrita por Glória Perez, a trama das 21h explora em sua trama o universo das novas tecnologias e realidades paralelas como: Realidade Aumentada (RA), Inteligência Artificial (IA) e Metaverso, além da Neurociência e crimes cibernéticos.
A autora já havia adiantado, em entrevistas que antecederam a estreia da novela, que se interessa pelas coisas que acontecem em sua volta e sempre observou como o avanço das tecnologias trazem coisas novas à sociedade. “A tecnologia já traz novas formas de convivência humana, uma maneira de reviver conflitos e criar novos. A gente escreve sempre sobre aquilo que a gente quer refletir, sobre o que nos interessa. Escrever uma novela é uma maneira de refletir sobre esses assuntos que interessam a gente”, conclui Perez.
Como era de se esperar, Glória mais uma vez traz em sua obra assuntos importantes e atuais. Inspirada em uma história real, a protagonista Brisa, personagem de Lucy Alves, é vítima de uma Fake News, algo que infelizmente vivemos muito hoje em dia. O enredo foi baseado na história real da dona de casa Fabiane Maria de Jesus, que foi espancada até a morte por moradores em um bairro no Guarujá, litoral de São Paulo.
Para o professor de MBA da FGV e especialista em negócios digitais, novas tecnologias e Metaverso, Kenneth Corrêa, ao trazer essas questões para o grande público a novela mostra os perigos do mau uso da tecnologia. “Antes das pessoas acharem que a novela irá estimular este tipo de prática, devemos olhar para o assunto como um alerta. As novas tecnologias estão aí para contribuir, para serem exploradas de maneira saudável, seja para o trabalho, para o entretenimento, para a educação ou qualquer outro fim, desde que não seja usada de forma inadequada ou até mesmo criminosa. Além disso, é importante refletir que existe punição para quem utiliza a tecnologia para o mal. As leis continuam funcionando normalmente, o metaverso é só uma nova camada da realidade”, conclui Kenneth.
Já na primeira semana podemos perceber que a tecnologia fará parte de alguns núcleos da telenovela, em especial o metaverso. Em seu primeiro capítulo, Glória Perez já mostrou que essa tecnologia norteia um dos núcleos da trama.
Mas o que sabemos de fato sobre essa tecnologia a ponto de ser assunto em uma telenovela? Por que investir nela se temos poucos usuários? Para essa resposta precisamos fazer um resgate e considerações.
Há pouco mais de um ano, setembro de 2021, quando Mark Zuckerberg anunciou o objetivo de transformar o Facebook em uma empresa de metaverso em até quinze anos, o termo entrou no rol de discussões, trending topics, e foi um dos assuntos mais comentados da internet nos últimos tempos.
Apesar de existir um interesse do público pelo tema, ainda pouco se sabe sobre os benefícios dessa nova realidade e como colocá-la em prática dentro do cotidiano pessoal e profissional.
Fato é que muitas empresas passaram a surfar nessa onda mesmo diante de um cenário ainda desconhecido e pouco explorado. E os números falam por si só: de acordo com dados da Boston Consulting Group (BCG), o metaverso deve movimentar cerca de U$ 400 bilhões até 2025.
Segundo relatório da empresa de consultoria em tecnologia Gartner. até 2026, 25% das pessoas passarão pelo menos uma hora por dia no metaverso para trabalho, compras, educação, social e/ou entretenimento. Em escala mundial, a instituição estima que até 2026, 30% das organizações do mundo terão produtos e serviços prontos para o metaverso.
“Como entusiasta das novas tecnologias, acredito que a adoção de realidades paralelas em larga escala ainda está longe de se concretizar, mas a novela trará uma projeção e popularidade. É o momento de encararmos o cenário sob uma perspectiva mais positiva, a visibilidade em massa certamente deverá contribuir para o desenvolvimento de projetos capazes de proporcionar experiências dentro do metaverso”, declara Kenneth.
O cofundador da Microsoft, Bill Gates, compartilha do mesmo pensamento e já fez sua “aposta” no Metaverso. Para Gates, nos próximos três anos as reuniões virtuais deverão migrar das imagens de câmeras 2D para o metaverso, com um espaço 3D com avatares digitais.
Segundo o vice-presidente de pesquisa da Gartner, Marty Resnick, “Os fornecedores já estão criando maneiras de os usuários replicarem suas vidas nos mundos digitais”. Ainda de acordo com Marty, “As empresas terão a oportunidade e capacidade de expandir e aprimorar seus modelos de negócios de uma forma sem precedentes, passando de um negócio digital para um negócio metaverso”, pontua.
Para Kenneth Corrêa, os debates sobre as fronteiras do metaverso ainda estão abertos. “Em apenas um ano vimos essa tecnologia passar de um conceito de um livro para um enredo de novela com alcance nacional e internacional, então podemos esperar um importante e significativo desenvolvimento dessa ferramenta”, finaliza o professor.
Para quem se interessa por tecnologia vale acompanhar os passos da personagem Talita (Dandara Mariana), que será a responsável por mostrar a figura da liderança feminina em busca de inovação no setor imobiliário. A profissional é antenada às novas tendências tecnológicas e será responsável por liderar a construção de um shopping center pela construtora do empresário Guerra (Humberto Martins).
De acordo com a autora, abordar esse tema é uma nova forma de percebermos a realidade. “Essa tendência a criar realidades paralelas e a viver em mundos que não são físicos me interessam muito. Isso faz parte de uma nova maneira de perceber a realidade”, enfatiza Glória.
De uma forma geral, acredita-se que o espaço dado ao assunto na trama de Glória Perez, vem em um bom momento para a tecnologia que está começando a adquirir os seus primeiros usuários.