Os desafios do jornalismo no século XXI sob a ótica do jornalista Rafael Faria

Desde que a Internet se popularizou, com o Programa Nacional de Banda Larga (PNBL), criado pelo decreto Nº 7.175/2010 com o objetivo de massificar o acesso à informação em banda larga no país, especialmente, nas regiões mais carentes de tecnologia, o jornalismo já não é mais o mesmo. Embora o PNBL tenha fracassado em seis anos, sem ter contemplado todas as regiões conforme prometerá, ainda assim conseguiu fazer a internet chegar em lares que antes não tinham como se conectar por meio da rede. 

Sem dúvida alguma, a internet transformou jornais e revistas em meios de comunicação de grande sucesso de audiência e proporcionou uma comunicação mais diversificada, com mais veículos à disposição. Jornais, blogs, revistas e as mais variadas redes sociais surgiram como avalanches na mesma proporção em que têm sido consumidos. Contudo, o atual cenário traz muitos desafios aos profissionais de comunicação, especialmente aos jornalistas. Isso porque hoje em dia com um celular na mão qualquer pessoa se tornou produtor de conteúdo, porém, as pessoas esquecem que produzir conteúdo não é sinônimo de quantidade e sim qualidade. 

Com o apogeu das redes sociais houve um empoderamento da sociedade. Na palma das mãos de cada cidadão existe um aparelho capaz de flagrar momentos e propagá-lo, muitas e infinitas vezes sem analisar as consequências desse ato. Hoje, todo mundo é um pouco jornalista, no sentido prático da propagação, mas sem o conhecimento, a ética e a responsabilidade inerentes a nossa função. Nesse tempo exige-se cada vez mais agilidade e apuração para que a verdade realmente chegue ao seu destino. E, se antes, nossa preocupação era informar, agora, além de informar é formar para uma cultura de certo ou errado, mostrando que nem tudo o que se propaga é fato. 

Rafael Faria 

Foto divulgação: Rafael Faria no Programa Tudo Posso da Rede Família de Televisão (Grupo Record TV)

Se o jornalismo de uma forma geral tem vivido desafios inimagináveis, o que dizer do jornalismo independente e literário? Certamente o primeiro desafio do jornalismo independente é o fato de ser um jornalismo que está nas mãos de profissionais autônomos e não de grandes empresas, ou seja, o fator econômico é o principal desafio, pois, ir para as ruas, realizar entrevistas e produzir conteúdo requer o mínimo de recurso financeiro, não dá para fazer jornalismo apenas diante de um computador. Isso porque o jornalismo independente é esse jornalismo que vai atrás da informação, que investiga, que não se prende a uma única fonte e, principalmente, que não busca interesses pessoais ou de terceiros, pelo contrário, o jornalismo independente tem a função de preservar a essência jornalística que é informar em profundidade, com ética, responsabilidade e transparência. 

Apaixonado pela profissão e amante do jornalismo literário,  Rafael Faria, jornalista e apresentador de TV descreve o atual cenário do jornalismo independente de uma forma brilhante. 

Esse jornalismo independente é fruto de uma sociedade cada vez mais plural. Não dá pra ficar apenas acreditando que existe a verdade A e a verdade B. O homem atual é mais pensante, agente da própria história e isso o leva a buscar elementos para uma própria conclusão, alimentando-se de fontes não tradicionais apenas, mas aberto a outras vertentes. As fontes independentes e alternativas são necessidades do tempo atual. Já o estilo literário é bem-vindo sempre e ele mora na necessidade de apresentarmos a história de uma forma mais ampla e completa, aproximando-a do leitor, ouvinte, telespectador e/ou internauta. 

É irrefutável que o jornalismo literário tem sido um gênero cada vez mais presente em nosso dia a dia e não é de hoje. Claro que por um tempo sua presença era mais tímida, sútil entre os meios de comunicação, porém, nunca foi deixado de lado, justamente por ser um gênero que trabalha com a sedução das palavras, com a humanização dos fatos, como destaca o jornalista.  

A humanização é a raiz desse estilo. Sempre acreditei que a notícia estava muito além de responder apenas perguntas básicas sobre um fato para poder informar o leitor ou telespectador. Meu desejo sempre foi de humanizar os fatos, entender os lados da notícia e passar, no meu olhar, com a caneta nas mãos ou na voz, a emoção que tive ao viver aquele momento.  

Esse zelo pela humanização dos acontecimentos fez com que Rafael se encontrasse no jornalismo literário, que une a narrativa da ficção ao real sem interferir na veracidade.  

Não sei se consegui praticar tanto esse estilo de jornalismo. Infelizmente, no hard News (jornalismo em tempo real), você tem pouco espaço e tempo para essa prática. Mas, sempre que possível, tentei mudar a rota das coisas, sem interferir nos fatos. E isso nasceu por achar chato e enfadonho a narrativa tradicional. 

É certo que o atual cenário do jornalismo é composto por uma junção de fatores onde a linguagem se alinha a tecnologia, cada vez mais é preciso se reinventar. A televisão e a internet se tornaram mídias complementares, o rádio foi para a televisão, contudo, cada meio mantém sua estrutura de linguagem adequado a cada mídia e público. Para o jornalista a palavra da vez é evolução e sem dúvida este é um processo natural. “Sobrevive quem sabe casar as novas tecnologias com suas raízes. Existe e sempre vai existir público para tudo. Eu não perdi o gosto por ouvir rádio, apenas mudei a forma de fazer”, finaliza.  

Imagem de divulgação: Rafael Faria apresentando o programa Tudo Posso, pela Rede Família de Televisão (afiliada RecordTV)

Outro grande desafio enfrentado pelos profissionais de jornalismo neste século está relacionado a sua formação. Desde que o Superior Tribunal de Justiça (STF) extinguiu a necessidade de diploma para jornalistas, há aproximadamente 11 anos, a decisão impactou não apenas os jornalistas, mas principalmente o jornalismo como ferramenta de comunicação e investigação da notícia, porém, não foi fator determinante. Houve bom senso das empresas de comunicação sobre a necessidade, ainda que não obrigatória em lei, de ter profissionais com diploma nas redações pelo simples fato desses profissionais formados reunirem conhecimentos suficientes para ir a campo e praticar jornalismo ético e responsável.   

A esse respeito o que posso dizer é que inicialmente fiquei aflito, mas logo notei que quem é sério vai buscar fontes precisas e seguras, e isso só se tem com bons profissionais por trás daquele meio. Veículos que poderiam dispensar profissionais graduados e optar por aventureiros, se o fizeram, se arrependeram. Por mais que a prática seja necessária, o conhecimento e o saber como fazer nunca serão deixados para trás. O prejuízo maior, talvez, seja na questão salarial e dos direitos, onde temos aqueles que se sujeitam a fazer por menos.  

Essa questão da submissão a trabalhos com salários inferiores ao piso salarial, infelizmente, não é algo apenas na nossa área. Com a crise econômica e o alto índice de desemprego que o país tem vivido há tempos, tem sido cada vez mais comum, profissionais se submeterem a salários baixos. Dentro desse contexto é comum ouvirmos pessoas dizendo “é melhor pingar do que faltar”, pode até parecer um pensamento pequeno e de auto-desvalorização, mas, infelizmente, é a realidade em que vivemos. 

Os desafios têm sido muitos e continuaram sendo, porém, o fazer jornalístico precisa estar cada vez mais alicerçado na responsabilidade e no comprometimento com a notícia, conforme destaca Rafael. 

“A imprensa sempre teve um papel preponderante na formação da sociedade e não vai ser diferente. Ficará para trás aquele jornalismo arraigado as alas e pensamento fechado, achando apenas que a sua verdade é a que vale. Com o homem cada vez mais pensante e certo de seu papel como agente transformador, cabe ao jornalismo dar-lhe base para essa ação. A informação é nossa, mas as conclusões e os rumos a serem seguidos é dele. 

Sem dúvida alguma o mundo pede, cada vez mais, que pensemos fora da caixinha. É preciso mostrar que a práxis jornalística não é algo mecânico. Lançar notícia na rede é fácil, mas fazer com responsabilidade é difícil. 

One thought on “Os desafios do jornalismo no século XXI sob a ótica do jornalista Rafael Faria

  • 18/02/2021 em 14:51
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