Da sala de aula presencial para o distanciamento social: como os alunos estão encarando essa mudança?

Desde que o Brasil recebeu o primeiro caso de coronavírus  em 21 de fevereiro, o país acionou a sirene de atenção. Há, aproximadamente 10 dias a população foi orientada sobre a necessidade de manter distanciamento social, ou seja, evitar sair de casa para tentar minimizar o impacto da proliferação do vírus.  

Estabelecimentos comerciais como shoppings, lojas de comércio de rua, acadêmicas, igrejas, escolas municipais, estaduais e públicas, centros universitários, faculdades e universidades (públicas e particulares) foram instruídos a fecharem as portas durante o período de quarentena por se tratar de ambientes que reúnem grande concentração de pessoas. 

Não restam dúvidas de que a necessidade de “ficar em casa” causou forte impacto na economia do país. Em pouco tempo empresas começaram a demitir funcionários e instituições como universidades e escolas buscaram alternativas, algumas adiantaram as férias outras optaram por continuar as aulas, porém, em ambiente virtual. 

A modalidade de Ensino à Distância (EaD) muito conhecida por todos não caiu no gosto popular dos universitários de cursos presenciais, afinal as aulas de EaD são as que menos agradam esses estudantes, justamente, por exigirem do aluno disciplina e concentração para estudarem isoladamente em ambiente virtual. 

A obrigação de manter o distanciamento social exigiu das instituições de ensino necessidade de se reinventar. As aulas em vídeo-chamadas, o uso de plataformas e outras ferramentas estão sendo utilizadas para minimizar o impacto e manter um pouco a presença do professor. 

Como professora universitária sempre ouço alunos reclamando da sala de aula, pedindo para ir embora mais cedo ou “matando” aula e voltando para a sala apenas no horário de chamada, para não ter falta. Diante das circunstâncias comecei a prestar atenção nos diálogos de alguns ex-alunos em suas redes sociais, para minha surpresa me deparei com muitos alunos desesperados por estar em casa, memes sobre o assunto tem sido comum, mas será que eles estão com saudade da faculdade?  

Para se adaptar à nova rotina a Faculdade Metropolitana Unidas (FMU) adotou a plataforma Blackboard Collaborative, onde as acontecem em horário regular e ao vivo, é o que explica Rhaisa Gabrielle, aluna do curso de História da instituição. Como ferramenta de controle de presença, os professores têm utilizado fóruns de discussões após as aulas para que a atividade valha como presença, além disso, alguns professores disponibilizam o material em arquivo PDF. 

Mas, como nem tudo é perfeito, a tecnologia também falha e isso tem sido um dos fatores ruins das aulas virtuais.  

A plataforma é muito instável, os professores encontram muita dificuldade pra ministrar as aulas, muitos alunos não conseguem participar, justamente por essa instabilidade. Porém, estamos nos adaptando (Rhaisa Gabrielle). 

Já a estudante de Rádio e TV da Faculdade Paulista de Comunicação (FPAC), Yasmim Andrade, confessa que é difícil a adaptação de aulas presenciais para 100% EaD. “É muito difícil essa adaptação, mas, a cada dia, temos que nos cobrar mais como alunos e realizar nossas tarefas e obrigações”, conclui. 

É totalmente compreensível essa dificuldade dos alunos, principalmente, quando são de cursos em quem as disciplinas práticas prevalecem. A aluna, Daniela Novais, que está no terceiro semestre do curso de Rádio, TV e Internet da Universidade Cruzeiro do Sul, declara que o período de isolamento está sendo uma experiência diferente, pois, está exigindo uma disciplina maior com relação ao estudo.  

Possibilitou o aprofundamento em matérias que antes não davam tempo, o fato de ter aulas online direto com os professores é legal, mas eu não troco minha faculdade presencial pela faculdade EaD, sinto falta do contato e da dinâmica em sala de aula (Daniela Novais). 

A resistência por aulas à distância é assunto complexo e por muito tempo foi visto de forma preconceituosa. Por outro lado, têm a questão da necessidade, nem todas as pessoas têm disponibilidade para um curso presencial, então os cursos dEaD é uma excelente saída, tanto que cresceu muito a demanda por esse tipo de curso no país. De acordo com o último censo EAD.BR, realizado pela Associação Brasileira de Ensino à Distância (Abed), 2017 registrou um número recorde, aproximadamente 7 milhões e 800 mil matriculados. 

Fato é que, aulas em ambiente virtual tem seus prós e contras. Para Gabriela Teles, aluna de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade Metropolitana Unidas (FMU), devido a necessidade de manter o distanciamento social, o benefício deste tipo de aula no momento é o fato de manter as aulas e os conteúdos em dia, sem ter que repor essas aulas em outro momento. Contudo, a aluna de arquitetura relata que a lista de “contras” é maior que a lista de “prós”.  

Nem todos os alunos têm uma boa internet em casa que dê para assistir as aulas sem interferência. Outro fator ruim é em relação à lista de presença que se dá quando todos estão online na plataforma, alunos e professor, se o aluno não tem uma boa internet para ficar online o tempo de duração da aula ele acaba tendo falta e isso não é justo. Além disso, os professores e a própria instituição não permitem que as aulas sejam gravadas e não existe a possibilidade de o aluno contestar o conteúdo ministrado pelo professor em um momento mais oportuno. (Gabriela Teles) 

Certamente os desafios são de todos os lados. Estamos vivendo um momento em que todos precisamos colaborar. Tenho certeza que a maioria da população não queria estar passando por essa situação, isolados em casa. O que estamos vivendo é diferente de estar em casa de folga do trabalho ou férias da faculdade, é muito mais complexo.  

A grande questão é que nem todos os universitários estão adaptados ao home office é o que declara a estudante Carolina de Almeida, que cursa Relações Públicas na FPAC, “Querendo ou não as aulas em ambiente virtual, exigem uma maior autodisciplina, o que na presencial, com os horários definidos é mais fácil de se adaptar”, conclui. 

Para os alunos do matutino o dilema é ainda maior, acordar cedo pra ter aula virtual em casa pode aumentar a procrastinação e a improdutividade é o que relata Carol. 

Sexta eu acordei as 6 horas e esperei pela aula, fiquei até as 10h30 assistindo deitada na cama, depois que acabou voltei a dormir. O dia acaba não rendendo. Por isso uma das principais dicas para ser mais produtivo no home office é se arrumar, sair da cama e ir para um local da casa que tire você da zona de conforto (Carolina de Almeida). 

Até mesmo nas tradicionais aulas de EaD que a maioria dos cursos possuem, os alunos não se sentem confortáveis em cursá-las, justamente por exigir disciplina. É comum a entrega das atividades dessas aulas serem feitas de última hora, no último prazo. E, quando a matéria é complexa, aí a dificuldade se torna maior, é o que relata Derick Volpi, aluno de Rádio e TV da Universidade Cruzeiro do Sul. 

O período de isolamento está calmo, mas o fato de ficar em casa e não poder sair para algum lugar se torna monótono. As aulas na faculdade estão boas, as matérias são interessantes, apesar de ter umas que você mais fica dando nó na cabeça do que entendendo de tanta informação que é. Além disso, alguns professores estão dando matérias online para nós, passando os slides para estudar e vídeo aulas ( Derick Volpi). 

Com certeza, a experiência de sair da sala de aula presencial para uma sala em ambiente virtual por tempo indeterminado, mesmo que com inúmeros suportes tecnológicos e pessoais por parte da instituição de ensino e professores, tem sido muito desafiadora para essa moçada, como afirma a estudante Glaucia Lozano, que cursa Rádio e TV da Universidade Cruzeiro do Sul. 

A vida acadêmica tem sido bem diferente na Cruzeiro, porque lá temos muitas aulas práticas e isso me dá um gás pra estudar porque tenho dificuldade de ficar somente na teoria, eu aprendo fazendo. Na situação atual os professores passam atividades que devem ser entregues na plataforma Blackboard e também tem as aulas por vídeo que acontecem no horário normal de aula. É meio complexo, pois, exige uma conduta difícil de ter em casa e não troco aulas presenciais por EaD. Sinto falta da prática, da interação, discussões em teorias críticas (Glaucia Lozano). 

Olhando para o momento que estamos vivendo, uma coisa é certa, estamos fazendo parte de uma história que terminará em livro e daqui alguns anos será utilizado em aula, seja presencial ou virtual, porque a tecnologia cada vez mais fará parte de nossas vidas. 

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