Mal do Século: depressão em breve será a doença mais comum
Tristeza, insegurança, solidão, variação de humor, insônia, culpa, baixa autoestima, muitos são os sintomas da depressão. De acordo com a organização mundial da saúde, cerca de 322 milhões de pessoas no mundo sofrem de depressão. No Brasil, aproximadamente 11 milhões de pessoas, cerca de 6% da população sofre da doença e mais de 18 milhões de pessoas (cerca de 9%) têm distúrbios relacionados à ansiedade.
Segundo a OMS esse transtorno psiquiátrico se tornará, até 2030, a doença mais comum em todo o planeta. Muitos são os fatores que levam uma pessoa à depressão como, por exemplo, falta de emprego, perda de um familiar, crises financeiras, falta de um amor, entre outros. Por isso é considerada por muitos especialistas como “O mal do século”.
Essa doença grave, que para muitos é vista como “frescura”, pode levar uma pessoa à morte. Dados da OMS apontam que nove em cada dez mortes por suicídio podem ser evitas com a prevenção da patologia, assim, a primeira medida preventiva é a educação.
Não podemos falar de depressão ou suicídio apenas em setembro (mês da campanha de conscientização sobre a prevenção do suicídio), pois, todos os dias pessoas tiram suas vidas por conta da doença. O caminho é falar, compartilhar informações, esclarecer, conscientizar e estimular o diálogo. Só assim podemos mudar essa realidade.
Hoje, 32 brasileiros se suicidam diariamente. No mundo, ocorre uma morte a cada 40 segundos. Aproximadamente 1 milhão de pessoas se matam a cada ano. Sabe-se que os números são muito maiores, pois a subnotificação é reconhecida. Além disso, os especialistas estimam que o total de tentativas supere o de suicídios em pelo menos dez vezes.
Organização Mundial da Saúde (OMS)
Buscando contribuir para esse diálogo, a equipe do Wir Tun News foi conversar com a psicóloga clínica e comportamental, Sandra Almeida. Confira a entrevista com a profissional.
Wir Tun News: O que é a Depressão?
Sandra Almeida: Quando uma pessoa passa por um grande período de estresse, de ansiedade, de aborrecimentos ou se tem traumas constantes a tendência é se sentir depressivo. Isso se dá, porque ocorre um desequilíbrio hormonal.
Falando fisiologicamente, nós temos hormônios do “bem e do mal”, que mesmo sendo do mal, são necessários. Então, quando passamos por um grande período de ansiedade ou de estresse nosso organismo produz em excesso dois hormônios, adrenalina e cortisol. No mesmo instante, outros dois importantes hormônios, a serotonina e a endorfina (responsáveis pela sensação de alegria, prazer e bem-estar, fundamentais para que a gente fique bem e saudável) caem.
Quando esse desequilíbrio ocorre a pessoa passa a desencadear inúmeras reações como: irritabilidade, insônia ou excesso de sono, tristeza, desinteresse por coisas que antes eram prazerosas, fadiga, desânimo, entre outros sintomas. Na maioria das vezes é preciso alinhar o tratamento terapêutico com a medicina, o paciente precisa fazer uso de medicamentos para que esses hormônios se estabilizem. É preciso fazer com que esses hormônios, que estão sendo produzidos em uma quantidade pequena, sejam devolvidos ao corpo, mesmo que de forma sintética, até que o organismo volte a fabricar naturalmente.
Wir Tun News: A Psicologia tem como mensurar o por que a depressão tem aumentado?
Sandra Almeida: No consultório sempre atendemos muitos pacientes com ansiedade, depressão, estresse, pânico, etc., porém, com o advento da internet as pessoas pesaram a pesquisar sobre o assunto na rede, a mídia tem falado mais sobre o tema, os artistas resolveram baixar a guarda e falar que tem ou já tiveram depressão. Portanto, hoje, com a informação circulando facilmente, a população tem ouvido e lido com mais frequência e isso tem possibilitado a identificação dos sintomas. Logo, aquilo que ela pensou que era bobagem, ou cansaço, ou só um período ruim, na verdade, são sinais de depressão. Então, acredito que o aumento se deu por essa razão, as pessoas passaram a buscar ajuda quando descobriram que o que elas sentiam não era bobagem e sim uma doença.
Wir Tun News: Quais são os sintomas de uma pessoa com depressão?
Sandra: São muitos os sintomas, mas vou destacar o principal, a tristeza. Porém, é uma tristeza diferente da que você sente quando, por exemplo, perde um familiar, um emprego, terminou um namoro, essa é uma tristeza pontual, daquele momento, daquela situação. A tristeza da depressão é contínua, parece não ter fim, nada nem ninguém consegue diminuir essa tristeza. Você pode convidar a pessoa para ir no melhor lugar do mundo, ela vai falar: “Aí não vou, prefiro ficar quieta aqui no sofá da minha casa”, ela passa a se isolar. Então, o desânimo, a vontade de chorar e o pessimismo tomam conta. Você pergunta: por que você está chorando? A pessoa responde, não sei. No entanto, essa vontade de chorar vem. A pessoa não fica desesperançosa, sente dores que caminham pelo corpo (quem já teve fibromialgia tende a piorar), enxaqueca, irritabilidade. Então tem pessoas que ficam irritadas, outras ficam apáticas, não têm energia para fazer nada. Já outras se tornam intolerantes, apresentam dores nas costas, muitas relatam um peso no antebraço. Os braços, a panturrilha e a batata da perna ficam pesados, logo, caminhar se torna custoso. O cansaço é diferente do que a gente sente normalmente. Ao término de um dia de trabalho a gente está cansada(o), é normal, mas aí você descansa, revigora suas energias e no dia seguinte amanhece bem. No caso da depressão a pessoa tem fadiga, esse cansaço é constante.
Outro sintoma importante que devemos destacar, são os distúrbios do sono. Ou a pessoa tem insônia, ou a pessoa dorme demasiadamente, mas tem vários despertares e acha que está dormindo bem, ou a pessoa tem muitos pesadelos. Portanto, qualquer acontecimento que tenha durante a noite de sono, você não teve um sono saudável e isso merece cuidado.
Wir Tun News: De que forma podemos mudar a visão das pessoas sobre a depressão?
Sandra: Qualquer pessoa está sujeita a ter um quadro de depressão, que não é frescura como muitas pessoas pensam. Por mais que falemos, ainda é pouco, por que existe muita desinformação. Antes de qualquer coisa, não julgue, não faça comparações, não tente dar um de médico, você não é. Se depois de ler essa entrevista você perceber que se identifica com a maioria desses sintomas, busque ajuda de um profissional, é importante você se tratar. Se você convive com pessoas que não acreditam no que você está sentindo, compartilhe essa informação com quem não acredita, que julga ser frescura, porque não é. Além disso, existem instituições e órgãos que podem lhe auxiliar como o Centro de Valorização da Vida. O CVV atua no apoio emocional e na prevenção do suicídio.
É importante ressaltar que não podemos mais conviver com esse desrespeito, por que além da pessoa estar sofrendo, ela ainda tem que lidar com o bullying, com a gozação, com a tiração de sarro das pessoas e isso não cabe mais.
Sandra Almeida
Psicóloga clínica com especialização em medicina comportamental, psicoterapia breve, terapia familiar, psicologia da saúde e psicologia hospitalar. Atua como coaching, palestrante e realiza treinamentos.
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